terça-feira, 23 de julho de 2013

E o meu silêncio é a fuga do que é morno...



Espetáculo "Entre fogos : Ao que sempre se repete, ao comum"

       A peça não tinha fim, bem como o próprio ator disse, o objetivo era tratar do começo dos amores e dos meios, e não dos fins.  Quando tudo começou, o ator principal me perguntou: Você já amou alguém? Eu respondi: Sim. E você já foi amada? Eu respondi: Uhum... Ele disse: Ah é, como você sabe? E na mesma hora eu não me senti constrangida porque percebi com apenas um olhar, que não só eu, mas todo mundo que estava ali, se encontrava com a mesma grande interrogação na cabeça. Ninguém sabia, a coisa mais traiçoeira que existe é ter certeza da certeza que não é sua.
       "O encontro de duas pessoas, é como o encontro entre duas placas tectônicas, já nos encontramos em tantas outras esferas mutilados."  ele gritava enquanto ela chorava, repetidamente em meio aos jogos de luzes, gritos, choro, tudo me impactava e despertava aquela já velha angústia, eu não estava ali, eu flutuava no passado e desfazia o falso sorriso que entrei em verdadeiras lágrimas. Ela o acusava de estático, frio, insensível e ele a acusava de impulsiva, egocêntrica, orgulhosa. Passou do ponto, passou do reconhecível, passou despercebida a harmonia. Era inevitável uma analogia, ainda mais pra mim que consegue analogias de vida até com o olhar de um cachorro de rua esfomeado. Eu nem queria estar mais ali, evitar tudo e colocar a minha máscara sorridente parecia a melhor opção, queria sair, sumir.
     Depois do meio, retrataram então o começo, já disse antes eu não estava lá, eu estava numa cachoeira rindo despreocupada de um umbigo. Eles então se beijaram. No palco era encontro de corpos, em mim encontro de almas. As luzes apagaram, acenderam voltadas para a platéia, não tinha fim, mas a peça tinha acabado. Faltou o aplauso, faltou a sensação finalizadora para que todo mundo pudesse levantar e sair sem aqueles olhares atormentados e interrogativos sem saber o que fazer, se era hora de ir embora ou não. E eu me sentia exatamente como aquelas pessoas, porém o tempo todo, tenho em mim a ânsia constante de viver, mas ainda tenho você impregnado no meu corpo.
   
"O silêncio é um dos argumentos mais difíceis de se rebater", e o meu silêncio é a fuga do que é morno.



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